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sexta-feira, 11 de março de 2011




A FORÇA DA MULHER

Poucos meses após eu sofrer um acidente de carro, visivelmente nos encontrávamos - eu e minha esposa. Sol - com um futuro incerto. As perspectivas não apontavam para um "céu de brigadeiro”, pelo contrário, eu já me encontrava, definitivamente, com 70% do corpo paralisado, quase tetraplégico. As reservas econômicas estavam se esvaindo. Na cabeça de Sol, continuar exercendo a minha profissão - vendas de imóveis - também era improvável, devido ao preconceito, com o portador de deficiência física. Sem que eu soubesse, ela escreveu uma carta à Universidade Católica de Pernambuco, solicitando meu reingresso para que pudesse concluir o curso de Direito. Enquanto isso nos contentava, com o fato de não correr risco de vida, mesmo ainda sendo necessários cuidados especiais com minhas condições físicas e orgânicas. Naquela noite, deitado em nossa cama, tocou o telefone - por volta das 22h - e Sol vai atendê-Io na sala próxima. Poucos minutos depois, ela adentra ao quarto e, pulando - pulando de alegria!! - E chorando - lágrimas de contentamento - grita: "Conseguimos! Conseguimos!" E, me abraçando, diz: o Conselho da Universidade Católica acabou de reunir-se e nos ligaram agorinha dizendo que você foi readmitido no curso de Direito! Finalmente! Finalmente, uma boa notícia! Deslumbrada bem diferente dos ares preocupantes que antes a acometiam - transbordando uma alegria incontida, ela diz: você vai se formar em Direito e poderá se quiser exercer a profissão de advogado. Ora ela me abraçava, ora pulava de alegria. Essa notícia nos deu novo ânimo, e, já tão contente quanto ela, perguntei: por que eles me concederam essa oportunidade? Ela, emocionada, olha para mim e relata: eu escrevi uma carta. Sabia ser difícil o seu retorno, por ter passado mais de dois anos do fechamento da sua última matricula, você havia sido jubilado. Achando que tinha acontecido um milagre, indaguei: qual foi o argumento decisivo que fez isso acontecer? Ela, ainda radiante, explica: na carta relatei tudo! Tudo que tinha acontecido: o seu sonho de menino humilde de vencer na vida. Coloquei na carta seus valores, entre tantos, de ser trabalhador, bom esposo, amar a família, a vida. Relatei o acidente e a sua bravura na luta pela vida. Por fim, escrevi que todos que fizessem parte daquele conselho, ao julgarem, pensassem muito, pois aquela decisão poderia ser motivo de ânimo para uma vida, e ainda, não se esquecessem de colocar-se no lugar do meu marido. Tenho fé, que a decisão será positiva. Eu, quase incrédulo, falei a ela: foi isso! Que ajudou na decisão. E ... De onde veio a inspiração? Ela prontamente respondeu: nos momentos mais difíceis nunca perdi a fé, nunca sequer imaginei que não ia dar para seguir em frente. Sempre acreditei, sentindo como se fosse uma grande força no meu interior. No início da semana seguinte, após cumprirmos a etapa burocrática da matrícula, dirigi-me orgulhoso e confiante, para assistir a primeira aula depois de tantos anos. O professor chegou minutos depois, e, ao fazer a chamada do meu nome, diz: o aluno é você, e não ela. Sol antecipou-se a mim e falou: professor, ele sofreu um acidente e não consegue escrever. Posso gravar a aula e escrever para ele? O professor concordou. O fato é que, ao final do mesmo, a decana Miriam Sá Leitão, ao anunciar a conclusão do meu curso de Direito, se expressou assim: "Antenor Lino hoje se forma de fato e de direito neste curso superior e sua esforçada esposa, de fato. Ela, persistentemente, todos os dias, assistiu, copiou e gravou todas as aulas" - concluiu.

Agradeço a Deus ter escolhido - a dedo - Sol para mim. Agradeço a ela, a força que lhe sobra e me tem emprestado. Em homenagem à força da mulher - todas elas - a maioria dos prédios que construímos, levam nome "Lady". Quando o homem e a mulher somam esforços, ambos crescem e triunfam. Eu, na minha vida, aprendi e agora sei o valor da força da mulher. Ela é a fiel companheira de todos os momentos. Sábio é o homem que se liberta dos grilhões machistas e apóia, estimula, enaltece a sua parceira. Feliz é o homem que tem a seu favor a força da mulher. É, certamente, imprescindível na vitória de qualquer um deles. Aliás, isso me faz lembrar a música do cantor e compositor Erasmo CarIos: "Mulher, Mulher ... Na escola em que você foi ensinada / Jamais tirei um dez / Sou forte, mas não chego aos seus pés".

ANTENOR LINO // Empresário